segunda-feira, julho 07, 2014

Espero o indizível, o inexprimivel... enquanto sentada sou engolida pela sombra, tão grande quanto o medo, tão escura quanto a solidão de quem recebe uma benção e não sabe o que fazer com ela...

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Perfectus amor




















Ainda bem que te encontrei

Numa altura qualquer

me vestiste de mim.

Despi por uns momentos

As minhas pernas e os meus braços
E todos os retratos

Alguma vez de mim pintados

Ficaram vazios.


Ainda bem que te encontrei

E me encontraste
E traçaste as linhas invisiveis

Do prolongamento de mim

E viste onde posso alcançar,
Olhaste para além dos meus olhos

E mergulhaste

Sem saber até onde te sustentavas

E sem querer saber.

Ainda bem que não sabes

Que me encontraste

E que ignoras

Que te trago comigo

Sempre que desenho

O contorno do sítio onde quero chegar

E que os meus olhos pousam

Naquilo que quero ver.

Ainda bem.

Fragilidade dos dias

Todos os dias são frágeis
Quando tocados pelo teu beijo.

Todos os dias são ágeis
Quando levados nas asas de um desejo
Quando o beijo das coisas nos toca
E o ânimo emborca
A negação do Feio.

Todos os dias são frágeis
Quando esse beijo
Não mata a sede
De negar o não das coisas.

Todos os beijos são frágeis,
Coração que os carregue, ágil
E consiga beber
Até secar a sede
De querer calar
A vontade de se negar.

Todo o beijo não chega
Quando cada dia se carrega
Uma parte de nós que se nega.

sábado, junho 20, 2009

Concertina














O tempo avança de mão dada com o medo.

Em segredo
As palavras complicadas

Já não me devoram na febre do seu uso,

Porque Eu caí em desuso.

Esqueci-me de me utilizar

Como de escrever,

Esqueci-me de pensar,

Esqueci-me de como se sonha.

O tempo ultrapassa o medo,

Faz-me medonha.

À esquina, um pedinte,

Toca uma concertina,
Sina diferente da minha...

E assim eu não devia

Estar importada com o medo

Ou com o sonho.
Esquecer-se
não é não ter com que sonhar.

Tempo torcido

Se eu soubesse
Que os meus dias não eram asas
Que pudesse estender e pairar sobre o tempo
Não as tinha inventado.

Antes teria semeado em cada um
Um pouco mais de mim
Para agora poder colher.

Fui

Fui.
E sei apenas que fui nada,
Nada resta,
E o que presta
É aquilo que fui.

Mas não sei o que fui.
Numa fotografia desmemoriada
Da desconhecida que está ao espelho
Vejo-me ludibriada
Por um rosto velho.

E está velho
De carpir a consciência de cada gesto
E a cada passo pensar que não presto
E que não chego para mim.
Eu fui, mas não sou assim.

quinta-feira, junho 19, 2008

Um 4º pras 8

... Um quarto para as 8
E um açoite na mão.
Renasço por momentos
Para a confusão das letras.
O resto, se não é,
Passam a ser tretas...

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Eterno Contratempo





















Não sei nada da dor,
Da vida,
Ou do amor.
Sei as outras mãos feridas
Os outros olhos cansados
E os meus pecados,
De vivências idas.

Sei onde estive
E sei que não estive
Quando devia estar.
Há olhares que se apagam
Mas permanecem no ar
Quando olhamos para dentro
E sentimos com pesar
Que o tempo é um contratempo
Que a vida faz questão de marcar.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Reflexo


















Não sei nunca quando volto
Para dentro de mim.
É ver-me assim
Num espelho recortado
Que o tempo partiu
E eu, daquele lado,
Sou outra que não sorriu,
Um reflexo alterado.

E dos risos,
Sem palavras
De repente me desfiz,
Aquela que no espelho não ri,
Estará infeliz?

Mas se aquela outra não sou eu,
É outra, saída de mim
E o que é de mim não morreu,
Porque me vejo assim?

Não sei nunca quando parto
Para fora de mim,
Há qualquer coisa de barco
Nesta travessia sem fim,
Em que um rio reflector,
Sem cuidado e sem pudor,
Me separa de mim.


Imagem: Muchacha ante el espejo - Pablo Picasso

sexta-feira, novembro 23, 2007

Estranho Léxico de um Chamamento (com ou sem pontuação)
















Clamei pelo teu nome,
Mas não vens.
Não vens nunca.
E chamo-te até à exaustão.
És um nome gasto docemente
Já sem a inocência dura
Da paixão que não sobrevem
Só nós mesmos
E nunca afirmados
Sabemos
O que o meu chamamento quer dizer.
E que o teu nome,
Exaustivamente gasto,
De mil e uma maneiras,
Faustidiosamente reinventado,
Diz todo o resto.
Foste, ainda antes
De regressares a este clamor
E sempre regressas
Prevalece a tua vontade
(Ou a minha?)
Quando me calo
E já não encontras no teu nome
As outras palavras todas
Que se apagaram do léxico
Quando me conheceste
Só eu te sei chamar
E guardo o teu nome
Na boca obcessiva
Na esperança tola
De com ele tudo poder mostrar.

quarta-feira, novembro 21, 2007

Doentio



















Em que pensar senão em ti? Versos ridículos ou apenas o auspício de escrevê-los, folhas amarrotadas cheias de ti. Deixo o labor de lado e penso neste fado que a minha vida vai cantando. Dolente...


Nunca escolhi um fado alegre para ouvir, nem tão pouco os ouço... Escolhem de vez em quando os meus ouvidos, e sentam-se a retinir num momento singelo.



E penso em ti. Não tenho mais nada em que pensar. Tenho uma cabeça oca que precisa de funcionar. E tu és a temática perfeitamente imperfeita onde posso estender a miséria do mundo que tantas vezes não sinto porque não estou miserável... Ou estarei?



Miserável na minha pequenez, no meu pobre pensamento, subitamente abastado de ti. Será ridículo e propiciamente brejeiro dizer que és a minha riqueza?






Ai, esta dor de pensar como eu penso...






Essa ferida aberta em ti... de tanto te pensar.



Imagem conseguida através de pesquisa no google.

segunda-feira, novembro 19, 2007

















O corpo esguio, fugídio,

A face dúbia, sem nitidez.

E presente, sempre.

Um ar ácido, pouco plácido,

Sorri ao longe com desdém.

E quase tangível,

Quase definível,

Quase palpável,

E quase quase afável

Capaz de rebentar o coração,

Ela está sempre aqui... a ilusão.





Imagem conseguida através de pesquisa no google


Distância














Vi entre os fumos,

Névoas de cheiro perturbante,

O vulto de um sonho,

Que me olhava distante.

E na sala, gente sem fim,

Gente que se olhava e media,

Tão longe de mim

Quanto o sonho que eu queria.


Imagem conseguida através de pesquisa no google.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Crepúsculos













A cada instante, o calor de um mês de Maio morno saía dos teus braços, sonolenta despedida de um Inverno frio. A cada instante, aflorava-me à pele uma sensação estranha de vitoriosa felicidade, mas nos olhos havia uma tristeza mórbida, espelho de um sol moribundo no horizonte.

Já provei braços de pedra, rijos e frios como o Inverno passado, secos e ásperos, como a terra que ele não lavou.


E Verão ardente, língua sem saliva que sobrasse para articular palavra que fosse, sôfrego e quente em beijos que ardiam... Sem sentido, sem pensar, sem alma... cheios de corpo.


O Inverno já me sobrou... Nunca gostei muito do Verão.


Prefiro a Primavera.


Imagem conseguida através de pesquisa no google